1 de dez. de 2013

Leve-me a Paris...


Uma amiga minha, a arquiteta Cristina Camps, circula pela cidade dentro de uma camiseta com a seguinte inscrição:
— Take me to Paris, mon amour — .
Uma frase conhecida, mas, vendo a Cris movendo-se pelo mundo com aquela camiseta, pensei... no Lula.
Lula, o ex-presidente.
Na verdade, pensei no Lula quando ele ainda não era presidente, quando o vi em pessoa pela primeira vez, em 1989. Lula concorria à Presidência da República naquela eleição única da história do Brasil. Era um jovem de jeans desbotados, barba e cabelos negros. Entrevistei-o no salão paroquial da Igreja São José, no centro de Criciúma. A inteligência e a vivacidade lhe faiscavam dos olhos, mas Lula ainda não havia aprendido que as pessoas se afastam de quem usa o sarcasmo. Aprendeu depois.
Já naquela época, me perguntava, e não lembro de ter perguntado a ele, se Lula havia participado da criação do seu slogan de campanha:
— Sem medo de ser feliz — .
Será que Lula cunhou aquela frase? Ou a achou brilhante quando os publicitários a apresentaram? Sem medo de ser feliz. É mais do que brilhante; é genial. É um resumo da vida. Porque, para ser feliz, as pessoas têm de arriscar. Têm de fazer o que outros não fazem.
A proposta de Lula era essa. Era ser diferente. Arrisque-se, ele gritava ao eleitor. Tente. Não fique apenas com o comodismo, com a pasmaceira da segurança. Não tenha medo de ser feliz. Vá em frente, saia do normal, faça o que os outros não têm coragem de fazer. Vá a Paris! Leve o seu amor a Paris!
Por que não?
Porque as pessoas sentem medo. Elas pensam: um dia faço isso, um dia enlouqueço e levo minha amada a Paris, a Lisboa, a Madri, a Londres. Um dia, agora não. Agora, preciso trabalhar. Tenho responsabilidades. Tenho ocupações. Não têm nada disso: têm medo.
As pessoas sentem medo da felicidade, e as coisas vão acontecendo, e você vai se envolvendo no ramerrão do dia a dia, e a vida vai passando, e vai passando, e logo é tarde demais.
Sem medo de ser feliz. Lula deve ter influenciado na criação daquela frase, ou no mínimo compreendeu seu sentido profundo quando a ouviu pela primeira vez. Não é à toa que, três eleições depois, foi empossado presidente da República. Sem medo de ser feliz. Take me to Paris, mon amour. A vida pode ser diferente. A vida pode ser melhor.

(David Coimbra)

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